Entrevista
Presidente
da Associação Portuguesa de Criadores de Toiros de Lide faz um balanço
positivo da temporada taurina mas admite que há razões para os
ganadeiros temerem o próximo ano.
Correio da Manhã - Muitos ganadeiros dizem que criar toiros é um negócio ruinoso. Como se justifica que não haja menos?
João Santos Andrade -
Nos últimos anos o número de ganadarias manteve-se, com algumas trocas
de proprietário. Algumas espanholas mudaram-se para cá, mas continuaram a
lidar sobretudo em Espanha. Se não fosse a grande afición e paixão, não
tenho a menor dúvida que os ganaderos diminuiriam muito.
- Quandos toiros e novilhos foram lidados nas praças portuguesas na temporada de 2011?
- Foram lidadas 1611 reses: 1280 em corridas, 12 em novilhadas, 201 em festivais e 118 noutros espectáculos.
- Como se compara com 2010?
- Existiu uma quebra, pois houve menos 24 espectáculos do que em 2010. No entanto, importámos menos 35 toiros.
- A lide de toiros de ganadarias espanholas trouxe prejuízos aos criadores portugueses?
-
Este ano importámos cerca de 170 toiros. A crise reduziu muito o número
de espectáculos em Espanha, pelo que a exportação também foi afectada.
Exportámos 112 toiros quando deveriam ter saído 300.
- O bom comportamento dos toiros nacionais tem a ver com a concorrência de Espanha?
-
Os toiros portugueses sempre se portaram bem, tendo todos o anos ganho
concursos em Espanha e França. Já a maioria dos toiros importados foi de
má qualidade, pois alguns empresários procuraram o barato em detrimento
da qualidade.
- O novo regulamento, cuja
publicação está para breve, irá prever a reciprocidade com as
ganadarias de Espanha, forçando a sua inscrição na Associação Portuguesa
de Criadores de Toiros de Lide?
- Vai
moralizar um pouco regras de reciprocidade que já deveriam existir há
muito tempo. Uma ganadaria portuguesa que pretenda lidar em Espanha
tem primeiro que se registar no Ministério do Interior, mas para
conseguir fazer esse registo precisa de estar inscrita numa associação
espanhola e ter a sua propriedade inspeccionada. Depois, tem que se
inscrever no Livro Genealógico Espanhol e ao fim de dois anos destes
registos todos, pode começar a lidar. À luz do regulamento que está em
vigor, uma ganadaria espanhola para lidar em Portugal apenas necessita
de atravessar a fronteira e trazer o certificado do Livro Genealógico
Espanhol. Não queremos dificultar a vinda de toiros como nos fizeram a
nós, mas necessitamos de ter conhecimento dos animais que são
importados. Para isso não necessitam de estar inscritos na nossa
associação mas apenas exigimos que sejam registados no Livro Genealógico
Português. Passa-se neste momento uma situação inconcebível, há toiros
nascidos em Portugal (portanto portugueses) cujo proprietário é espanhol
e que os serviços do Livro Genealógico Português (propriedade da
Direcção-Geral de Veterinária) não tem conhecimento que existem.
- Quantas ganadarias existem neste momento e quantos animais estão disponíveis em 2012?
-
Existem 94 ganadarias e se o número de espectáculos se mantiver haverá
um excesso de animais pouco significativo. Vai depender muito da relação
entre a importação e a exportação.
- Quais são as perspectivas para 2012 no que concerne aos interesses dos ganadeiros?
- Estamos apreensivos, pois a situação económica é grave e o aumento do IVA nos bilhetes é preocupante.
PERFIL
JOÃO SANTOS ANDRADE nasceu
há 58 anos na cidade de Coimbra, mas vive há várias décadas em
Almeirim, no Ribatejo. Casado e pai de duas filhas, o empresário
agrícola e proprietário da Ganadaria Prudêncio, preside desde 1985 à
Associação Portuguesa de Criadores de Toiros de Lide, que representa os
criadores desses animais.
Foto:D.R.
IN Correio da Manhã