Já muito se escreveu sobre os touros, a tourada, a taurologia, as tradições e todo o mundo envolvente.
Não pretendo “ensinar a missa ao Padre”, mas gostava contudo de partilhar convosco este meu desabafo. O desabafo de um aficionado de 28 anos, um desabafo de um amigo dos touros, um desabafo de um dos membros fundadores da Frente de Acção Pró-Taurina, um desabafo de um “curioso” que fez dois ou três treinos no “fantástico” Aposento da Moita, e que mais tarde se deixou levar pela amizade sincera e espírito de união com que o Aposento da Chamusca sempre me recebeu e cheguei a ter a honra e o orgulho de vestir a Jaqueta algumas vezes! (Porque o “bichinho continua cá dentro”)!
Este desabafo prende-se com uma necessidade de fazer ver a muitos, quer gostem quer não, que as touradas não se resumem a “espetar ferros no coitado do animal”.
As touradas quer queiram quer não são reconhecidas como parte integrante da Cultura Portuguesa, pelo Estado Português! (Nada que qualquer aficionado que se preze não o soubesse antes.)
Neste mundo de “tolos egocêntricos”, onde somos confrontados com mutações diárias em todas as variáveis (político-económica/sociocultural e até mesmo religiosas), cabe-nos a nós Portugueses e principalmente Aficionados, defender o que é nosso.
MAS, defender de maneira culta, de maneira nobre e de maneira a que todos nos entendam!
Chega de demagogias! Chega de discussões que geram muito calor e nenhuma luz! Chega de comparações parvas do tempo dos Vikings, do apedrejamento de mulheres, e do Coliseu onde se atiravam os escravos aos leões! Chega de palhaçadas! Temos que defender a Festa Brava, como ela nos pede para ser defendida e nos merece esse apoio.
Deixemo-nos de dar argumentos básicos aos Anti, sobre os ferros não magoarem os touros, ou que é uma tradição só nossa, ou etc.
Hoje em dia, temos que ser mais polidos e mais humanistas na defesa das nossas convicções e paixões!
Hoje em dia há factos que abonam a “nosso” favor! Há cada vez mais grupos de forcados, há cada vez mais jovens a tourear, há cada vez mais jovens a ambicionar serem cavaleiros tauromáquicos, há cada vez mais praças cheias. Cheias de “antigos” a recordar e “recentes” a aprender! Qual a “nossa” missão? Tornar esta “moda” em Tradição, em Costume, dando argumentos válidos e consistentes a quem quer aprender a defender o que é nosso por Direito!
Actualmente vivemos em tempos de crise. Crise que não é só económica ou política, é também de valores morais. Onde “alguns” confundem ou misturam, os Direitos do Homem com os Direitos dos Animais, assim como também o fazem numa escala distante em relação às Corridas Portuguesas com a realidade das Corridas Espanholas. (É triste, mas é verdade!)
Voltando ao que interessa, (porque sinceramente o que os anti-touradas dizem a mim pouco me importa), temos que ter consciência social no que diz respeito ao mundo dos touros.
Deixemo-nos de guerrilhas internas, de dinheirinhos por fora, de lobbies fracos. Deixemo-nos de olhar para nós próprios e olhemos para quem depende realmente da Festa Brava, porque enquanto isso não acontecer, continuaremos a ter touros espanhóis a invadirem-nos as praças, continuaremos a ter fracos cartéis, continuaremos a ter corridas mistas pejadas de espanhóis, continuaremos a ter Portugueses que para ver uma “boa” corrida de touros têm que ir aos “nuestros hermanos”.
Já reparam que há milhares de Portugueses que dependem directamente da Festa Brava? Já reparam que se as touradas acabassem em Portugal, milhares de famílias portuguesas, viam-se obrigadas a viver na miséria? (Não é que não vivam já, mas eu tudo farei para contribuir para um rumo diferente)!
Quando me dizem que há muita coisa para fazer na vida, não acredito nem imagino um campino de 50, 60 ou 70 anos ir para o programa das “novas oportunidades”! Não acredito nem imagino um embolador, um ferrador, agricultor ou um motorista a fazer o exame de maiores de 23 para ir tirar uma licenciatura. Não que não tenham capacidade para tal mas, e a capacidade financeira? E as suas famílias?
Enfim, sejam tempos de crise ou não, não podemos abandonar quem dedicou toda uma vida a defender e a trabalhar para a “Festa Brava”.
Concluindo, resta-me uma questão! E os toiros, pá!?
Os touros bravos que se extinguiriam mal se abolisse a Festa Brava. Os touros bravos que tanto nos orgulhamos de venerar. Os touros bravos, esses sim, que são quem nos proporciona desde sempre momentos únicos de “aficion”!
Pois é! Só pensamos em responder a quente a quem nos ataca, e esquecemos que há per si argumentos válidos que abonam a nosso favor! As famílias e os Toiros!
Pedro Ferreira de Carvalho
Foto:D.R.