O Dr. Ortigão Costa morreu esta terça feira, em sua casa, na Azambuja, vítima de doença prolongada.
O prestigiado ganadero, de 83 anos, foi também um distinto lavrador e criador de cavalos.
Considerado por muitos como uma das mais importantes figuras da festa, Ortigão Costa chegou a seguir a carreira de empresário, nomeadamente na praça de toiros do Campo Pequeno.
O corpo do Dr. Ortigão Costa vai estar esta quarta-feira, a partir das 12:00, na Igreja de Azambuja, onde será rezada uma missa às 15:00, seguindo-se o funeral para o cemitério local.
Reportagem do Jornal "O Mirante" ao Dr. Ortigão Costa
18 Out 2006, 12:07h
Médico veterinário, criador de toiros
A fábrica Sugal foi construída nos terrenos do sogro, engenheiro Moniz da Maia, figura ilustre de Azambuja e um dos grandes promotores imobiliários da época, que em 1957 aceitou o desafio de participar na sociedade da empresa.
O médico veterinário, então funcionário do Direcção Geral dos Serviços veterinários, deixou Lisboa e partiu à aventura por terras do Ribatejo, de onde é originária a esposa, Maria Berta Moniz da Maia Ortigão Costa.
“Começámos com 40 hectares de terra. Hoje temos 1800 hectares no Ribatejo e outros 1800 em Elvas”, descreve o empresário.
É na “Herdade de Alcobaça”, naquela cidade alentejana, que pastam os toiros bravos marcados a fogo com o ferro de uma das mais reputadas marcas a nível internacional – OC - Ortigão Costa.
Na vila de Azambuja está concentrada a coudelaria da família, a produção de leite, fábrica de transformação de tomate, culturas agrícolas e suinicultura.
O patriarca da família de sete filhos – quatro rapazes e três raparigas - tem feito gradualmente a sucessão. Sem nunca perder de vista o rumo que os herdeiros estão a dar ao negócio. Costuma acompanhar as várias actividades e distribui pelos quatro filhos recomendações frequentes e fotocópias com artigos que retira de revistas especializadas. É difícil afastar-se dos negócios que orientou durante os últimos 50 anos.
Construiu um império em anos difíceis para os empresários portugueses. O rigor e o perfeccionismo ainda se mantêm bem vivos na sua personalidade.
Veste fato escuro e gravata ao estilo clássico. Relógio de bolso pendurado com cordão prateado. Pontualidade rígida. É um observador treinado. Não lhe escapa nem o pormenor do desnivelamento dos quadros pendurados na sala de convívio entre a coudelaria e o picadeiro, que os netos enchem sempre que se celebra um aniversário em família, em Azambuja.
Luís Ortigão Costa faz questão de corrigir o posicionamento de alguns dos diplomas emoldurados onde se multiplicam os prémios da Feira Nacional da Agricultura. Um dorso de cavalo preto, ex-libris da coudelaria, também é arrastado pelo patriarca para o lugar que considera conveniente.
Mas a disciplina exasperada é temperada com bom humor e cavalheirismo. Sorri com os mais de 50 anos de casamento, conta uma anedota entre duas perguntas e orgulha-se com satisfação dos 17 netos. Diz quem o conhece que dá a mão a quem precisa. Recusa qualquer rótulo político. A sua ideologia é a igreja católica.
Ortigão Costa, com origem espanhola e alemã por via das avós materna e paterna, descreve-se à boa maneira dos ganadeiros. “Sou um híbrido”, confessa entre duas gargalhadas.