A Tertúlia D.
Miguel I quis hoje “fazer justiça” e homenagear os toureiros que, segundo a sua
optica, têm sido esquecidos pelas empresas.
Um dos toureiros que estava no grupo dos “injustiçados”
era Salgueiro da Costa, que não marcou presença no encontro, mas que enviou uma
missiva rejeitando ser um “injustiçado” pelo sistema, mas apresentando a sua visão sobre a festa.
Uma visão e uma análise lúcida de um jovem que luta e sonha em ser figura do toureio.
A carta foi lida no decorrer do almoço de Natal da
referida tertúlia.
O Diário Taurino teve acesso à missiva e publica a
mesma já a seguir:
“É com muita
pena que não estou presente, mas a recente cirurgia ao joelho não me permite
estar neste almoço. É sempre uma honra ser convidado por essa tertúlia, os
valores e a verdade que trazem á festa estão cada vez mais em vias de extinção,
e como cavaleiro praticante só posso agradecer o contributo prestado fazendo
uma retrospetiva da minha carreira.
Houve maus e bons momentos, e responsabilizo-me
pelos dois. Tenho sido algo irregular e tenho
sofrido as consequências disso.
Porém já
tive lides de grande nível que a meu ver deveriam ter tido mais repercussão. Admito
que para as empresas sou ainda um risco, daí talvez ter menos contratos do que
os que gostaria, mas fica a certeza de que cada vez que entro em praça, é com a
intenção de tourear com a máxima verdade, emoção e pureza.
Eu sei que
por vezes a minha seriedade me prejudica. Fui este ano criticado pela questão
das voltas à arena no final da lide. Fizeram soar a antipatia o que se trata de
respeito pelo público.
Se o público
não pede a volta, eu não a posso dar. Também já me chamaram arrogante por pedir
um aumento de cachet depois de ter sido triunfador da temporada.
Não se trata
de quantias exorbitantes, trata-se do toureio ser a única e total atividade e
eu depender dela.
Penso que é
compreensível que ambicione ganhar cachets que consigam suportar os custos da
minha profissão, não sou arrogante por estar consciente do meu triunfo quando
ele aparece, pois também me responsabilizo sempre pelos meus fracassos. Quando
fracasso a culpa não é do toiro, não é do piso nem é do empresário. Quando
triunfo também não.
Para
terminar agradeço ao meu avô a leituras destas palavras, não haveria melhor
pessoa para transmitir esta mensagem, já que o toureiro que tento ser se deve
aos ensinamentos de toda a dinastia.
Bom Natal
João
Salgueiro da Costa
Fotos:D.R.