Os toureiros são realmente feitos de uma massa especial. Nunca deixam de nos surpreender com as suas reações perante as contrariedades que a sua difícil profissão pode proporcionar e essa circunstância faz com que essa disposição seja para eles uma forma de encarar a vida.
Vem
isto a propósito do que assistimos no Campo Pequeno na passada quinta-feira.
António Pereira
António Pereira
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António
Badajoz tem agora 85 anos e os seus últimos tempos têm lhe sido muito difíceis.
Um longo internamento hospitalar tirou-lhe a capacidade de andar, mas não
derrotou a sua vontade de ferro. António não se podia conformar com esta
imobilidade e entregou-se com tenacidade à tarefa de contrariar os males
do seu corpo cansado.
Quando
foi chamado à arena para receber aquela distinção, recusou a comodidade da
cadeira de rodas e avançou pelo seu pé, amparado num aparelho ortopédico.
Quando
a ovação foi redonda e de luxo, com o publico unanimemente em pé, inchou o
peito como era o seu jeito, ergueu o tronco e saudou de boné em mão e de forma
muito templada. Notei no rosto o seu sorriso maroto e um brilho muito vivo nos
olhos do velho toureiro.
Ele,
que teve tantas tardes e noites de gloria ao serviço dos seus toureiros na
arena da velha praça, tinha ali aos seus pés os aficionados do novo Campo
Pequeno, voltando, por momentos, a recuar no tempo.
Falei
ontem com ele e estava radiante e feliz.
Grande
entre os grandes, como diz um amigo comum, há homens que são eternos. António
Badajoz, aos oitenta e cinco anos, mostrou como é diferente a massa de que são
feitos os toureiros.
Francisco Morgado / Foto Emilio de Jesus