Mais um bonito desenho de Joaquim Quintella a acompanhar a crónica de Duarte Palha
O comunicado que consta no link acima, vindo de uma associação que pretende defender a tauromaquia demonstra quatro aspectos graves e que recorrentemente apontamos à "outra facção" - falta de cultura, intolerância e falta de coerência e elevação - além de uma gritante estupidez.
Falta de cultura porque afirmar que Bruno Nogueira
é anti-taurino com base em dois textos humorísticos que escreveu
(ou representou), é tão absurdo como assumir que Maria Rueff é um taxista,
benfiquista chamado Zé Manel. Um humorista vive da ridicularização - não raras
vezes de si mesmo - e, como tal, não devemos olhar essa ridicularização como
uma opinião concreta e firme, mas sim como um "papel" assumido
naquele momento.
Embora também eu creia que Bruno Nogueira é anti-taurino, não me parece de todo sensato - ou racional, sequer - tomar posições de força com base em rubricas humorísticas.
Intolerância porque não devemos hostilizar alguém porque simplesmente tem uma opinião diferente da nossa. Considerando os textos de Bruno Nogueira como uma opinião, este limitou-se a manifestá-la num meio a que tem acesso diariamente para, livremente, "dizer o que pensa". Bruno Nogueira não é um activista, anti-taurino, nunca o vimos em manifestações, ou a boicotar o que quer que fosse relacionado com a "festa". Bruno Nogueira limitou-se a dar uma "opinião", provavelmente votaria contra as corridas num referendo, mas nunca assumiu uma campanha (pelo menos de que eu tenha conhecimento) contra "nós". Resumindo, não se trata de um activista, mas sim de alguém que tem uma opinião. Insurgir-nos contra quem apenas tem opiniões, deixa-nos na posição de extremistas, o que apenas nos pode trazer anti-corpos e toldar a razão.
Falta de nível e coerência porque o boicote proposto por esta associação, é, não só um acto de muito baixo nível, que não considero ajustar-se à imagem que queremos passar, como é exactamente o oposto da liberdade de escolha que tantas vezes acusamos de nos quererem tirar. Estará esta associação esquecida da apregoada expressão, que tantas vezes utilizamos - "se não gostam de corridas, não vejam"? Teria alguma facilidade em perceber que se pedisse um boicote passivo (não ver o espectáculo), mas um "boicote activo", que visa a não realização do mesmo, parece-me completamente descabido e sem o mínimo nível que se exige a quem diz defender algo tão importante.
A liberdade de escolha só funciona se a escolha for igual à nossa? Teremos nós o dever de boicotar todos os espectáculos que esta associação pense não serem adequados a um aficionado? E porque não fazer uma lista de "artistas impuros" que devemos esconder das crianças? É com esta elevação e coerência que respondemos quando podemos ser nós a dar o exemplo daquilo que pedimos dos outros?
Resumindo e dando de novo. Bruno Nogueira que, parecendo ser contra, não se trata de um activista anti-taurino, ia fazer um espectáculo na praça de toiros de Montemor, no qual nada fazia prever ser abordado o assunto das corridas de toiros - assunto que numa carreira de mais de dez anos, parece ter sido abordado duas vezes. Uma associação "pró-taurina" decide responder a estes factos com o incitamento a acções de boicote ao espectáculo, acabando este por ser "cancelado". O que ganhámos? Provavelmente, um inimigo mediático muito mais acérrimo e a divulgação nos media nacionais de uma história que faz de nós umas bestas.
A história é esta, e quanto mais penso nela, mais me lembro da forma de agir da "outra facção - falta de cultura, intolerância, falta de elevação e coerência.
No fim de tudo, deixa-me profundamente irritado que a necessidade de protagonismo nos leve a cometer erros básicos destes. Infelizmente, pior que a pequenez, só quando a pequenez se quer pôr em bicos de pés e brincar aos grandes.
Nota do autor: Os textos que aqui publico são uma opinião
exclusivamente minha, não tendo qualquer condicionamento editorial e
limitando-se o Joaquim Quintella a ilustrar os mesmos, sem que tal signifique
ter uma opinião coincidente.