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quarta-feira, 11 de abril de 2012

Do outro mundo! Salgueiro faz entrevista a ele próprio. Um toureiro diferente é assim... Saiba tudo sobre a temporada do cavaleiro de Valada

 Face às solicitações que me têm sido feitas nos últimos dias por vários sites e blog’s, sobre a minha temporada de 2012, decidi emitir um comunicado que é nada mais nada menos do que uma entrevista a mim próprio, respondendo assim de forma sucinta e esclarecedora, às diversas questões que me têm sido colocadas, por forma a não deixar dúvidas e aclarar de uma vez por todas a minha actual situação e os projectos que tenho para este ano.

João Salgueiro


- Vou ou não vou tourear em 2012?
- Com certeza que sim. É a minha profissão e a minha vida. Não tão cedo quanto se esperava, infelizmente, mas felizmente por outro lado, como já explicarei, devido à lesão na perna esquerda, que me tem impossibilitado de me preparar condignamente nestes dois últimos meses, neste período de pré-temporada. Praticamente ainda não treinei. Por outro lado, a lesão (contraída durante um acidente quanto treinava no meu tentadero, dando uma fortíssima pancada com a perna contra a parede, que originou uma complicada fratura) não está ainda completamente curada e os médicos aconselharam-me a esperar mais algum tempo. Sou profissional e jamais me apresentaria em praça sem me encontrar a 100 por cento.

- Felizmente por quê?
- Felizmente porque, por um lado, esta paragem forçada me permitiu meditar, pensar e equacionar o meu futuro. As coisas não estão fáceis, vive-se um momento de crise muito grande e esta paragem, por um lado, tem como positivo o facto de me permitir (me obrigar, diria mesmo) a só voltar a tourear quando considerar que estão reunidas todas as condições para isso. Em todos os aspetos. Mas sobretudo e principalmente no aspeto físico. Mas não só.

- E quanto tempo isso vai demorar a concretizar-se?
- Não tenho pressa. O Senhor João Núncio, em muitas temporadas, iniciava só a sua no 15 de Agosto nas Caldas, antes não toureava. Não o pretendo imitar, se estou parado neste momento não foi por minha vontade. Mas aproveito a paragem para modificar algumas coisas, para virar uma nova página na minha carreira.

- Chegou a constar que parava mesmo, que suspendia a temporada, como já outros fizeram…
- Infelizmente, o acidente ocorreu, não foi uma “invenção”. Parei uma vez na vida, há alguns anos, precisamente porque não se encontravam reunidas as condições que eu considerava serem necessárias para me sentir a gosto, para triunfar, para as coisas sairem bem. Estive uns meses parado e depois regressei num mano-a-mano com “El Juli” que encheu o Campo Pequeno. Desta vez não há paragem nenhuma. Há, sim, uma paragem forçada. Mas assim que estiver, como disse, a 100 por cento e assim que estiverem reunidas as condições, arranco.

- Está contratado para as Sanjoaninas em Angra do Heroísmo. Vai?
- Com certeza que sim. Estou contratado para uma corrida e vou. Mal de mim se no final de Junho ainda não estivesse em forma. Estarei certamente.

- E no continente?
- Posso tourear uma ou duas corridas antes dos Açores, ou só depois, só em Julho. Logo se verá.

- Apoderado novo?
- Acabámos o apoderamento, eu e o “Nené”, que durou oito anos, por mútuo acordo e por considerarmos que era o momento. Não houve nada de mal que motivasse o fim da nossa relação. Somos amigos, continuamos amigos, as nossas famílias são amigas. É importante que isso fique esclarecido. De momento e como é evidente, já surgiram propostas, mas até nesse aspeto estou calmo, tranquilo e sem pressas. Em princípio, farei esta temporada sem apoderado. Até porque, pelo facto de a iniciar tarde, não tenciono fazer um grande número de corridas.

- Poucas, mas boas, é isso?
- É isso. Espero aparecer quando tiver que aparecer e quando as empresas sentirem que precisam de mim.

- Quer dizer que neste momento não precisam do João Salgueiro nos cartéis?
- Não quer dizer isso e tanto que não quer dizer, que a maioria das empresas me têm contactado, diretamente, indagando como estou e quando começo a tourear. Mas, primeiro não posso tourear já; e depois, como disse, também não tenho pressa. Fui sempre um toureiro que “vendeu” ao público sentimentos e emoções e é assim que continuarei a ser. Vai chegar o momento em que a temporada, o público e os empresários vão sentir necessidade de sentimentos e de emoções…

- E cavalos, João… nunca mais houve um “Isco” e um “Herói”…
- Não faço comparações com essas cavalos e com esses tempos. Tudo tem um tempo na vida. O “Isco” e o “Herói” tiveram o seu e deram-me o seu. Houve outros depois. E há outros agora. Prefiro guardar a surpresa para quando aparecer. Estou bem montado, mas antes de começar a tourear, todos os toureiros estão sempre “bem montados”. Tenho cavalos novos, alguns em que deposito grandes esperanças – vão ver! – e ainda posso vir a comprar mais um ou dois. Quando aparecer, apareço para surpreender. O João Salgueiro não acabou, como alguns diziam, quando acabaram o “Isco” e o “Herói”. Já acabaram, infelizmente, há uns anos. E eu ainda cá estou.

- Por outro, lado, o facto de estar parado, devido à lesão, tem permitido “dar andamento” ao João (filho), que ultimamente toureava pouco…
- Pois tem. O João tem um coração, uma garra e uma vontade que podem romper e despoletar de um momento para o outro. A Festa precisa de sangue novo. Há muitos toureiros novos e muitos filhos de toureiros. O meu não é melhor nem pior. Mas não pode ser “mais um”. Neste momento, mais maduro, mais toureiro e sobretudo mais consciente das dificuldades que esta profissão acarreta, o João começa a ter reunidas as condições, a começar pela quadra de cavalos e a acabar na sua moralização, para finalmente ir em frente.

- E a “guerra” com o Ventura?
- Transmitiram ao Diego Ventura versões deturpadas e que se calhar convinham a alguém, acerca de uma conversa tida entre o meu filho e o pai do Ventura, numa mesa em que estavam outras pessoas. O meu filho teria dito, quando lhe propuseram, que não pretendia tomar a alternativa, mas nunca disse, até por que, graças a Deus, é educado, que não queria o Ventura no cartel da sua alternativa porque ele não tinha categoria para tal. E foi isso que lhe foram contar e foi isso que desencadeou toda essa “guerra”, quanto a mim, sem pés nem cabeça. A verdade é que, de facto, o meu filho ainda não tomou a alternativa, nem certamente a tomará ainda este ano.

- O Ventura faz falta à temporada portuguesa?
- Claro que faz e isso nem tem discussão. Espero que venha.

- E que toureiem os dois?
- Porque não? Eu nunca recusei tourear com ninguém.

- E toiros, João… ainda mantém a mesma opinião da célebre entrevista em que falou dos “nhoc-nhoc”?...
- Os “nhoc-nhoc” servem para dar algum tipo de espetáculo, mas o público e a Festa precisam de emoção à antiga.

- Quando essa emoção voltar, as praças voltam a encher?
- Há público para todos os toiros. Mas que a emoção tem andado meio arredada, isso tem. É um facto.

- Resumindo e concluindo, para quando a reaparição?
- Reaparição não será, porque não me afastei. Iniciarei mais tarde a temporada devido a esta lesão. Mas vou tourear. Tenho um projeto ambicioso, ainda “não acabei”, sinto que tenho ainda muito a dar e que o público me vai querer ver. Vou surpreender quando aparecer, não vou tourear muito, mas vou fazer, espero, grandes corridas. Estou moralizado para virar uma importante página na minha carreira. 


Fotos:D.R e DT