É longa, mas vale a pena ler esta
entrevista do princípio ao fim. Uma vez mais, Miguel Alvarenga usa a
frontalidade, a irreverência e a genial loucura que sempre o caracterizaram
para dizer o que tem a dizer, com clareza e transparência, sem papas na língua
e sem recados nas entrelinhas. O que é, é; o que não é, não é. Não acabou, não
foi abandonado, não anda triste, nem tão pouco se vai dedicar a colar cartazes
ou a fazer de porteiro nas praças. "Não me caiam os parentes na lama, mas
não sei colar cartazes e se fosse porteiro dava um prejuízo bestial à empresa,
deixava entrar os amigos todos" - graceja. Pelo meio, tem entre mãos dois
grandes e ambiciosos projectos, que não revela por enquanto por que "o
segredo continua a ser a alma do negócio". Quanto ao jornal, conta tudo:
"suspendeu a temporada", como alguns cavaleiros, voltará no momento
certo. O blog dispara em flecha. E está a acabar o livro com a história da
prisão no Linhó. Por outras palavras: está p'ra durar! E que se lixem os que
queriam acabar com ele...
Entrevista de Hugo Teixeira
- Miguel, primeiro, o que importa e o
que todo o mundo quer saber: o jornal estava para sair quinta-feira passada e
não saíu. Por quê?
- O jornal podia ter saído quinta-feira,
como podia ter saído há dois ou três meses, como pode sair amanhã. A máquina
está preparada e eu sei fazer jornais. Em 24 horas ponho o jornal na rua. Não
saíu por diversos motivos, mas sobretudo porque considero que não estão, ainda,
reunidas as condições necessárias para o pôr em andamento. Tão simples como
isso...
- Falta de dinheiro, decadência, o
princípio do fim... como escreveram no tal "blog anónimo"?
- Bom. Vamos por partes. Não tenho que,
nem quero, comentar escritos de quem não dá a cara e se esconde, como um
medricas, atrás de cobarde anonimato. Já percebi perfeitamente quem é o autor
desse blog, confesso que me desiludiu, mas eu continuo "à prova de
bala", tanto se me dá, como se me deu que escrevam mal de mim. Pelos
menos, escrevem... e dos outros, não. Nem falam. Nem bem, nem mal. Aquele outro
blog feito pelo actor Carlos Cunha, que deu a cara e disse que era ele, teve,
pelo menos, essa atitude de homenzinho, tinha por objectivo "deitar-me
abaixo", mas tinha a sua graça. Não era ofensivo, era feito na base de um
acutilante e perspicaz sentido de humor. Fartei-me de rir com os videos que ele
engendrou. Tenho pena que tivesse parado. De verdade. Este outro blog é
ofensivo. Já tomei, obviamente, as devidas providências com os meus
(brilhantes) advogados. Mas, por outro lado, enche-me o ego. Não dizem mal de
mais ninguém, não dão importância a mais ninguém, a não ser a mim. Isso
lisonjeia-me, obviamente. E é para o lado que durmo melhor. Falarem de mim, mal
ou bem, significa que tenho importância. Doa a quem doer. Mas, voltando ao
jornal: certamente que ninguém iria acreditar se eu dissesse que tinha milhões
e muitos investidores para fazer o jornal. Há alguns e há algum dinheiro. O
suficiente e o necessário para pôr o jornal a andar. Mas considero que é preciso
mais. Quando o "barco" arrancar, tenho que ter a certeza que vai
navegar com toda a estabilidade necessária e desejada, sem correr o risco de se
afundar. Os tempos não estão para brincadeiras, sou doido, mas não sou
inconsciente. Quando arrancar, quero arrancar com estabilidade. No momento e na
conjuntura actuais, não são aconselháveis aventuras. Já passei por situações
complicadas durante os quinze anos em que fui dono, gerente, director, em que
fui tudo no "Farpas". Não volto a repetir a "proeza". Não vou,
de certeza absoluta, ter mais dores de cabeça. Arrancarei com o jornal, repito,
quando as condições estiveram reunidas...
- E isso quer dizer o quê...
- Quer dizer, textual e exactamente, que
não volto a ser patrão. Entrarei num projecto em que me paguem o ordenado a que
tenho direito para dirigir e fazer o jornal. Há um projecto e há investidores,
mas eu considero que as condições não estão ainda reunidas a cem por cento. Sou
altamente profissional e tenho um, entre outros, defeito: sou demasiado perfeccionista.
Só avanço quando a máquina estiver a cem por cento afinada.
- O jornal implicaria um abrandamento do
blog?
- Implicaria certamente. E a verdade é
que neste momento estou altamente entusiasmado e motivado com o blog e com o
seu surpreendente sucesso e abrandá-lo era agora contraproducente. Por outro
lado, eu que era o mais contra possível estas modernices da internet, reconheço
hoje que tem muito maior importância e muito mais eficácia um blog do que um
jornal. As notícias podem ser colocadas na hora. Com um jornal, as pessoas tinham
que esperar oito dias para ler. É o futuro e ao que tudo indica, mais tarde ou
mais cedo, os jornais vão acabar. Não é dentro de um ano, nem de dez, se
calhar, mas a tendência é para acabar o papel. Os blog's e os sites
substituiram o interesse dos aficionados, mataram o interesse do jornal. É a
realidade. Temos que a encarar.
- O tal "blog anónimo"...
- ... outra vez?...
- ... dava a entender que andavas
triste, abandonado, que já ninguém pagava publicidades ao "Farpas",
que mais tarde ou mais cedo (risos) ias para colador de cartazes ou porteiro de
uma praça...
- (risos) E não me caiam os parentes na
lama por isso. O saudoso Manuel Gonçalves, que foi quem foi, contava-me
muitas vezes que quando foi para França, a seguir a vir de Moçambique,
andou muitas noites com o filho a colar cartazes, por isso não me
desprestigiava nada se o fizesse também. Sempre é um meio lícito de
ganhar a vida, melhor que, por exemplo, traficar droga... e tive muitos
"convites" para entrar nessas vidas de alguns dos meus bons e sempre
lembrados amigos do Linhó! Mas, por enquanto, ainda não me vão ver a
colar cartazes, até porque os cartazes estão a acabar, quando muito
viam-me a montar painéis nos outdoor's do meu amigo Nunes. Além disso,
não sei colar cartazes
e se fosse porteiro dava um enorme prejuízo à empresa, deixava entrar de
borla
todos os amigos! Primeiro e ao contrário do que diziam, com o claro
objectivo
de denegrir, difamar e ofender (os tribunais não se fizeram para outra
coisa...), nunca ninguém me pagou para "criar polémicas", "dizer
bem" ou "dizer mal". O dinheirinho que recebi e, graças a Deus,
continuo a receber, do meio taurino, diz respeito a publicidades,
institucionais e legais. Como todos. Ainda recentemente, o site
"tauromaquia" veio a público com um texto acusando um empresário de
não ter cumprido a sua palavra e não lhes ter pago a publicidade
acordada. É só
a mim que pagam? Claro que não recebo o que os outros recebem. Pagam-me
muito
mais, porque a visibilidade no "Farpas Blogue" não tem nada a ver com
a visibilidade nos outros. Bom, mas voltando à questão: não ando triste,
ninguém me abandonou, nem vou colar cartazes... O meio taurino é, como
sabes,
um meio de interesses e de falsas amizades. Mas há algumas amizades
verdadeiras. E eu tenho as suficientes, felizmente. Quanto a "andar
triste", ando triste, sim, pelo estado a que este país chegou. Mas como
já tenho a nacionalidade espanhola, não me chateio muito. Mas triste,
nunca. Sou a pessoa mais divertida deste mundo, sempre fui. Graças a
Deus, não tenho razões nenhumas, nem profissionais, nem, sobretudo,
familiares, para andar triste, Estou muito bem de amores, tenho os
melhores filhos do mundo e até tenho uma gata que me diverte imenso.
Tenho dívidas, neste momento todo o mundo tem, mas não choro por isso.
Sei que as vou pagar e as pessoas sabem que sou bom pagador. Não sou de
fugir a nada. Mas triste, não, nunca!
- Não apareces nas corridas...
- Porque já não tenho pachorra. É sempre
tudo igual, é sempre tudo mais do mesmo. Era a mesma coisa que fosse todas as
semanas ao cinema ver o mesmo filme. Vou onde me apetecer e onde me interessar.
Sou mais útil junto ao computador a noticiar na hora o que se passa e para se
noticiar não é preciso estar no local. Há uma coisa chamada fotografia, há
informadores, há colaboradores.
- O blog dá para viver, é isso?
- Dentro da conjuntura actual, quando
todo o mundo anda aflito, não me posso queixar muito. Digo até, por
brincadeira, mas talvez não o seja assim tanto, que dentro de um, no máximo
dois anos, estarei milionário com o "Farpas Blogue". Foi assim que
começou o jovem que criou o "Facebook"! Além disso, estou envolvido
em dois grandes e ambiciosos projectos, um tem a ver com o mundo dos toiros, o
outro não, em que estou empenhado a duzentos por cento e que vão ser sucessos
garantidos. Com toda a certeza.
- Que são o quê?
- O segredo é a alma do negócio. A seu
tempo, as pessoas saberão e sentirão o meu trabalho nesses dois projectos.
- As visitas ao blog sobem de dia para
dia...
- E os números são verdadeiros. Ao
contrário do que também insinuaram, aqui não se adulteram dados. Todas as
noites, depois da meia-noite, o Google dá a informação correcta das visitas do
dia. O Google é americano. Não conheço ninguém na América, a não ser o Paulinho
Jorge Ferreira e o Jorge Martins e um primo meu que trabalha lá há anos. Não
acredito que sejam eles a meter "cunhas" aos homens do Google para me
"aumentarem" as visitas... Só eu, por ser o administrador do blog,
posso aceder às minhas estatísticas. Mas posso fazê-lo, abrindo o meu
computador à frente de quem quiser e mostrar. Minuto a minuto, os dados estão
disponíveis para consulta, ao longo do dia eu vou tendo conhecimento da
evolução. E posso mostrar, com o maior dos gostos, a quem quiser ver. Portanto,
sobre isso, não há dúvidas nenhumas. Mais: os dados dizem respeito a visitas
individuais, ou seja, dizem respeito a um ID ou IP, não sei como se chama isso.
Ou seja: se tu fores do teu computador visitar o meu blog e o voltares a fazer
quatro, cinco, cem ou duzentas vezes ao dia, só conta a primeira. Quando me dão
oito mil visitas, foram mesmo oito mil pessoas que aqui vieram, não foram, por
exemplo, quatro mil pessoas que lá foram duas vezes cada.
- Vêem mais pessoas o blog do que as que
compravam semanalmente o jornal?
- Actualmente, com uma média de oito mil
por dia, embora haja dias com menos de oito mil, mas penso que já estabilizou
acima dos seis mil por dia, multiplicados pelos cinco dias da semana, dá à
volta de quarenta mil visitas semanais. Se eu vendesse quarenta mil jornais por
semana estava mais rico que o Dr. Pinto Balsemão!...
- Isso faz disparar em flecha os preços
da publicidade?
- Não sou doido. Tenho a plena
consciência do tempo que vivemos. Claro que uma empresa que coloque o seu
cartaz no "Farpas Blogue" tem aqui muito mais visibilidade do que
tinha colocando-o uma vez por semana no jornal. Isso implicava que pagasse dez
ou vinte vezes mais do que pagava no jornal. É evidente que os preços do
"Farpas Blogue" são superiores aos do jornal, mas, repito, não sou
doido, sei o tempo em que vivemos...
- Outro caso também falado no tal
"blog anónimo"...
- ... estamos a dar-lhe a importância
que não tem...
- ... mas é importante. Existe um
processo em tribunal da Associação de Forcados contra o "Farpas"?
- Fui recentemente notificado para
prestar declarações num processo, o caso está entregue aos meus advogados e
muito em especial ao Dr. João Camacho, que considero o melhor do mundo, mas
ainda não sei o que é, é possível que seja da Associação de Forcados, não sei.
Seja o que for, estou calmo e sereno, como sempre estive. A Associação de
Forcados tem toda a legitimidade para processar quem entender e eu tenho, no
caso de isso se confirmar, toda a legitimidade de me defender. A falar é que as
pessoas se entendem e se for caso disso, lá estaremos em sede própria para
falar do que não me compete falar aqui.
- Diziam que andas mais
"mansinho" com medo de ir preso...
- O facto de já ter cumprido, com o
maior dos orgulhos, uma pena de prisão pelo "crime" de "abuso de
liberdade de imprensa", não obriga a que vá preso no próximo... Já depois
de estar no Linhó, tive alguns processos, poucos, ganhei-os e não fui preso,
embora estivesse na altura a cumprir uma pena de prisão, não efectiva, graças a
Deus, mas de fins-de-semana. Mal de nós se cada pessoa que cumprisse uma pena
de prisão passasse a ser presa, a partir daí, em todos os processos em que
fosse responder. Não havia cadeias que chegassem... Mas, ainda àcerca de do que
me perguntaste anteriormente, se não considerasse que neste momento todos temos
que estar unidos em prol e em defesa da Festa, o que deveria fazer (e muitos me
têm "picado" para que o faça) era ignorar pura e simplesmente os
forcados até que chegasse ao fim esse tal processo. E depois, ao verem-se
ignorados no blog, os grupos que fossem "agradecer" por isso à
Associação. Mas não o farei precisamente por entender que a hora é de união, os
forcados merecem ser destacados, são os grandes e últimos românticos da nossa
Festa, tenho muitos e bons amigos forcados e antigos forcados e os grupos não
têm culpa da atitudes de quem os pretende representar na generalidade.
- E o livro com a história do Linhó?
- Ora aí está uma coisa que tenho
prejudicado e adiado em detrimento do sucesso do blog. Está ainda atrasado, não
tenho tido o tempo que queria e de que necessitava, mas neste momento está já
na recta final. Chama-se "A História da Minha Prisão - Jornalista conta
experiência na Cadeia do Linhó" e acredito que seja um sucesso. Vai ter
apoio televisivo, etc. e por isso não duvido de que será um êxito. Penso que
sairá no início do Verão. Há duas épocas indicadas para lançar livros, dizem-me
os editores: o Natal e o Verão, porque as pessoas vão de férias, descansar e
gostam de ter uma leitura.
- Não vamos falar da temporada, nem de
toureiros, isso fazes tu todos os dias no blog, mas queria só uma opinião: a
atestar pelo pouco público que tem acorrido às praças, 2012 vai ser um ano
complicado?
- Vai, mas acho que não tem nada a ver
com a crise financeira. Os bilhetes para o "Rock in Rio" custam,
preço único, 61 euros e aquilo vai estar cheio os dias todos. Aos bons
espectáculos, o público vai. Nos toiros, a crise é muito mais de valores do que
de carteira. Quando surgir um ídolo, quando houver um toureiro que leve gente
às praças, as praças voltam a encher. Enquanto andarmos a ver mais do mesmo, as
praças continuarão a meio gás, que ninguém tenha ilusões, nem dúvidas disso. Os
"antigos" continuam a ser ainda melhores que os "novos".
Mas andamos a vê-los há trinta anos! São sempre os mesmos. Basta dizer que, até
ao momento e neste início de temporada, o que marcou de verdade foram os
triunfos dos veteranos Rouxinol em Lisboa e Paulo Caetano em Vila Viçosa. De
resto...
- A corrida de abertura do Campo Pequeno
foi a prova disso que acabas de dizer?
- Claro que foi e nem é preciso dizer
mais nada, já se disse e já se escreveu tudo. O próprio Rui Bento reconheceu,
na entrevista que te concedeu no domingo na Rádio Portalegre, que as coisas, em
termos de público, ficaram muito àquem das expectativas. E eu insisto: não é
uma questão de falta de dinheiro, é muito mais uma questão de os cartéis serem
quase sempre iguais há trinta anos e de, na nova fornada, não se ser destacado
ainda, em termos de força de bilheteira, um toureiro. São todos muito bons, mas
não levam ninguém atrás deles. O grande termómetro, porque vai medir tudo, ou
barómetro, se preferirem, não será ainda a próxima corrida do Campo Pequeno,
mas a de 17 de Maio, quando vier o Pablo Hermoso de Mendoza. Acredito que
esgotará. Acredito que a força do Pablo, depois desta apoteótica campanha na
Colômbia e no México, despertará o interesse dos aficionados em o ver. O facto
de tourear com os Telles e ainda por cima com os dois Telles mais clássicos, o
Maestro António e o seu sobrinho e seguidor mais directo Manuel, toureiros com
estilo bem diferente do que Hermoso, levará ao Campo Pequeno o outro tipo de público.
Vão os adeptos do toureio clássico dos Ribeiro Telles e vão os adeptos do
toureio dito moderno do Pablo. E não o vão assobiar, acredito. Enquanto que o
Ventura criou muitos anti-corpos em Portugal, o Pablo continua a ser admirado e
respeitado pela sua classe, pelo seu toureio, mesmo diferente do que os Telles
vão praticar nessa noite. Essa corrida é que vai marcar a temporada em termos
de futuro. A nível do Alentejo, antevejo que a corrida que vai marcar é a da
Ovibeja. Se um cartel no Alentejo com o Moura, o Rui Fernandes e o Moura
Caetano não encher, mais nenhuma outra corrida no Alentejo encherá e estão será
caso para os empresários entrarem mesmo em pânico e reveram toda a situação e
todas as suas estratégias na composição dos cartéis.
- O caso do João Salgueiro... o que
opinas?
- O que já escrevi. O João Salgueiro é
uma primeiríssima Figura do toureio. Surpreende quando menos se espera. E
acredito que está a ver, melhor que todos, a situação actual. Felizmente, dentro
do "infelizmente" que isso acarreta, sofreu uma lesão na perna que
atrasou o seu arranque na temporada, mas por outro lado permitiu que ele se
mantenha na "boxe", como a "reserva" a utilizar pelos
empresários quando fôr a hora certa. E eu acredito, como ele acredita, que
chegando a Julho vão precisar dele nos cartéis. Os elencos são sempre os
mesmos, os mesmos toureiros estão mais que vistos e já não levam gente às
praças, as empresas vão precisar de vender bilhetes, vão precisar de viver,
senão encostam à boxe, como alguns toureiros já fizeram e para vender bilhetes,
vão precisar de motivos que levam o público à bilheteira a comprá-los. Ao
pretender fazer seis ou sete corridas e ganhar nelas o que outros vão ganhar em
vinte ou trinta, ou nem isso, o Salgueiro está a ser super-inteligente e vai
marcar a temporada, vão ver. Eu acredito plenamente que sim.
- Estará montado para isso?
- Ver-se-à na altura. Estive há dias em
Valada, já começou a montar e vim surpreendido com alguns cavalos que tem
"escondidos" e que lhe vão permitir regressar aos tempos áureos do
verdadeiro Salgueiro.
- E as desistências, Miguel?
- Não me surpreenderam. Surpreendeu-me,
confesso, a do Manuel Lupi, as outras não. É pena que se afastem toureiros que
têm valor e que têm o seu espaço e o seu lugar em qualquer cartel, como é o
caso do Vitor Ribeiro, do José Manuel Duarte, do Tomás Pinto, que ainda no ano
passado arrancara. Mas compreendo-os, como compreendo os que desistirem a
seguir e vão ser mais, infelizmente. Os tempos não estão fáceis, pelo
contrário, as empresas não querem, porque não podem, pagar o que determinados
toureiros merecem e a que têm direito. Para andar aí a empobrecer aos poucos,
sem motivação, mais vale, de facto, parar e esperar por melhores dias. Que eu
acredito que hão-de vir. Ao fim e ao cabo e como falávamos no início, a
história do jornal é idêntica. "Suspendeu a temporada" também, para regressar
em melhores dias.
- As relações com a empresa do Campo
Pequeno melhoraram?
- Já temos, felizmente, relações
intitucionais e profissionais. É tempo de todos nos unirmos em defesa da Festa.
Estou consciente disso, consciente dos erros do passado, de caminhos que
percorri quando deveria ter percorrido outros, etc. Posso ser meio doido e sou,
com imenso prazer, mas também sou muito responsável e super-consciente, sei
reconhecer os meus erros. Estamos todos no bom caminho. E há pouco acabei por
não responder: estou mais "mansinho", dizem. Não é isso. Estou mais
maduro, já não penso que sou capaz de mudar o mundo, como antes pensava. E
estou sobretudo consciente de que a Festa precisa de que todos estejemos mais
"mansinhos", mais calmos e mais amiguinhos uns dos outros, para não
darmos, com a nossa estupidez, trunfos de mão-beijada aos anti-taurinos.
- Já apoias a "Prótoiro" e a
Associação de Forcados?
- Nunca deixei de apoiar, as pessoas não
entendem ou não quiseram entender. A "Prótoiro" faz falta e a Associação
de Forcados faz falta. Desde que façam coisas que fazem falta e não percam
tempo com coisas que não fazem falta. Nos últimos anos, a Associação de
Forcados limitou-se a "existir" para vetar e expulsar grupos e para
vetar a Corrida "Farpas". Como acabei com a Corrida
"Farpas" (é a maior homenagem que posso prestar ao meu querido e
saudoso amigo Manuel Gonçalves, acabei a corrida quando ele, infelizmente, acabou
a sua vida, a sua permanência entre nós), a Associação de Forcados deixou de se
ouvir. É verdade ou não é? Neste momento, o seu presidente, o José Potier, está
a ter e a fazer um trabalho muito mais importante e sem polémicas, como membro
da Comissão Executiva da "Prótoiro". Durante dois anos e após
"espalhafatosa" apresentação, a "Prótoiro" não fez mais
nada, que se sentisse, para além de vender t-shirt's à porta do Campo Pequeno.
Critiquei isso e a própria "Prótoiro" se auto-criticou e reconheceu que
estava a ser pouco ou nada interventiva. Não conheço pessoalmente o Dr. Diogo
Costa Monteiro, mas terei o maior dos prazeres em conhecer um dia destes, mas
considero brilhante e altamente eficaz todo o desempenho que está a levar a
cabo, juntamente com os membros que compõem a Comissão Executiva da Federação.
Agora sim, repito, acho que estamos todos no caminho certo. E como sempre
considerei que águas passadas não movem moinhos, é tempo de nos entendermos e
de nos unirmos em defesa da Festa. Não nos podemos esquecer que os anti são
poucos, são uma minoria, mas têm direito de existir, têm direito de ser contra
e estão ou estavam muito mais organizados que nós. É preciso que a trincheira
deste lado esteja unida para lhes fazer frente. A "Prótoiro" e a
Associação de Forcados precisam do "Farpas", seja blog ou jornal e o
"Farpas", mas sobretudo a Festa, precisam da "Prótoiro" e
da Associação de Forcados. Precisamos todos uns dos outros e precisamos, acima
de tudo, de reconhecer e ultrapassar os erros, os excessos e as parvoíces do
passado. Eu consigo, espero que eles consigam também.
- Tinha que abordar isto, até porque sou
amigos dos dois... e as "guerras", entre aspas, com a Solange,
Miguel?...
- Comentarei esse caso a dois, com a
Solange, num jantar que temos agendado há que tempos e que, por razões várias,
ainda não se realizou. Não quero comentar mais nada sobre isso em público. Por
mim, a "guerra", entre aspas, dizes muito bem, acabou.
- Resumindo e concluindo, não acabaste,
não encostaste à boxe, não "morreste", salvo seja, não andas
triste... nem vais colar cartazes...
- Por enquanto, não, depois se verá! Deixa-os falar. Se fosse colar cartazes, certamente que o meu querido
amigo António Nunes me dava emprego na sua dinâmica empresa! Também não morria
de fome! Mas ainda não é caso disso. Tenho esses dois grandes projectos entre
mãos, ando feliz e ando super-ocupado, tenho o livro para acabar e tenho o blog
para levar ainda mais longe... Ainda vão ter que "levar comigo" por
mais alguns tempinhos!
- Alcançar as dez mil visitas por dia no
blog é a meta, Miguel?
- Já lá estivemos pertíssimo e acredito
que mais tarde ou mais cedo, lá chegaremos. Quando isso acontecer, fecho o blog
por um dia e vou festejar com os amigos. Regresso 24 horas depois!
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