A Santa Casa da Misericórdia de Reguengos de Monsaraz
colocou a concurso a praça de toiros e, ao solicitar 60 mil euros de renda por
três anos (mais os impostos), logo veio à minha memória a história do hortelão
que quer afastar os pássaros da horta e por isso coloca bem no centro do
terreno um espantalho.
60 mil euros (20 mil euros por ano) por duas datas anuais é
um excesso dos diabos, na minha humilde opinião.
A misericórdia está no direito e é livre de pedir aquilo que
entender, não discordo, mas os tempos que correm não estão para este tipo de
grandezas.
Será que a crise
passou ao lado de Reguengos?
Quanto aos critérios de adjudicação, onde impera a vocação
por eleger a proposta economicamente mais vantajosa, nem me atrevo a comentar,
já para não dizer que esse não é o caminho rumo ao futuro.
Outra coisa também
estranha nesta adjudicação e que coloca os empresários “amarrados” passa pela
exploração dos bares. Antigamente cabia à empresa, agora ficam nas mãos da
misericórdia.
E aqui, perante este
exemplo vindo de Reguengos (infelizmente há mais) começam os problemas da festa em Portugal.
Quem vai concorrer à adjudicação de uma praça quando estão
em jogo valores considerados “do outro mundo”?
Todos sabemos que, na festa, surge sempre um “herói” capaz
de concorrer, mas depois quem paga?
Claro está, o aficionado quando colocar a cabecinha na
bilheteira.
Os proprietários das praças continuam a possuir uma visão monetária
em detrimento da qualidade e, na grande maioria das vezes, o que é que acontece
quando se pensa assim?
A qualidade dos espetáculos fica aquém das expectativas e da
qualidade desejada e a praça em vez de crescer, vem por ai a baixo, ostentando,
depois, o rótulo de “queimada”.
Mas as minhas
interrogações continuam.
Com que moral vem depois um empresário pedir descontos a um
toureiro, depois de entrar numa aventura milionária pela adjudicação de uma
praça de toiros?
Um toureiro ao saber que fulano X deu uma fortuna pela
adjudicação de uma praça não tem todo o direito de abrir a goela e exigir um
cachet chorudo, equivalente ao seu valor como artista?
Estou errado?
Pois, é…e aqui reside o problema principal, ou um dos
grandes problemas da festa, o “dossier adjudicações”.
Reguengos é apenas um pequeno exemplo, um alerta.
Para que a festa sobreviva em tempos difíceis, este não é,
com toda a certeza, o caminho a trilhar.
Foto:D.R.