O ESPETÁCULO DO FUTURO
Como muitos sabem, com a esperança de conseguirmos cobertura
financeira para o projeto de um Monumento ao Forcado em que andamos há anos
empenhados, demos a conhecer uma iniciativa que, para esse efeito, tínhamos
imaginado. Foi aproveitada. Teve o êxito que esperávamos. Só que a receita da
bilheteira não foi a favor do Monumento. Mas não desistimos do sonho. Mesmo com
atitudes destas e falta de colaboração de quem estatutariamente a devia dar – a
ANGF- que nem respondeu ao nosso pedido, mantemo-nos na “luta”. Tivemos agora
outra ideia. Sabemos que se a acharem rentável os “caça ideias” não hesitarão em usá-la. Embora
correndo esse risco, a bem da Tauromaquia, vamos expô-la.
O caso é este. As touradas são consideradas sanguinárias
pelos que se lhes opõem. É o argumento forte que usam os Assis sem auréola, discípulos
de São Francisco de Assis patrono dos animais, para exigirem a sua abolição.
Assim, admirando o toiro de lide, a sua bravura, lembrámo-nos de um evento
capaz de a preservar, satisfazendo simultaneamente gregos e troianos. Quer
dizer, os que são a favor e os que são contra as touradas. Terá o apelativo
título de
T S S – T O U R A D A S S E M S A N G U E
Os sensíveis persistentes e ordinários anti taurinos, os
“contra”, já não poderão esconder as verdadeiras razões do seu comportamento,
servindo-se do sangue do toiro como argumento. Os taurinos, terão uma forma de
resguardar e estimular a bravura do toiro sem terem necessidade de o fazer
sangrar.
Os Forcados serão utilizados como tínhamos sugerido e tem
sido seguido nas várias Festas do Forcado que se têm realizado. Juantar-se-ão a
estes, “recortadores”, toureio de capote, de muleta e, eventualmente, toureio
cómico.
Espetáculo movimentado, diversificado, divertido, SEM
SANGUE, onde quem realmente pode sofrer
são os homens e não os toiros, suscetível de atrair público.
Inclusivamente os turistas que nos visitam.
Tira-se deste modo o pretexto do derramento de sangue aos piedosos
anti taurinos. Satisfaz-se a sua delicada sensibilidade, sempre pronta a
insultar quem aprecia touradas, olhando com indiferença as privações dos sem
abrigo, dos carenciados, e preserva-se e estimula-se a bravura do toiro.
Está feita a sugestão. Claro que não nos satisfazem nem a
quem é aficionado. Mas é a forma que arranjámos para mandar os Assis sem
auréola, os anti taurinos, os “contra”, onde calculam que, em pensamento, os
mandamos.
Quanto aos “olheiros” taurinos”, sempre alheios ás
iniciativas alheias, aproveitando-as quando lhes parece darem lucro, têm a
nossa compreensão. Atravessamos um período difícil. Não há espaço para
romantismos ou moralidade retrógrada. É tempo dos espertos. Do salve-se quem
puder. Assim….
MAIS VALE TARDE QUE NUNCA
Foi com satisfação que tive
conhecimento da homenagem que no dia 2 de agosto, na Praça de Toiros do Campo
Pequeno, vai ser prestada ao alcochetano Joaquim José Penetra.Com pai, tio e
irmão forcados e de uma terra onde o pegar toiros é quase uma religião, não
admira que muito cedo sentisse o desejo de seguir o exemplo dos seus
familiares. Teve oportunidade de o fazer, no G.F.A. Lisboa por coincidência
comandado por um alcochetano, pois foi nessa aficionada terra que nasceu
o famoso Nuno Salvação Barreto, fundador deste Grupo.
Neste exigente Grupo, teve ocasião de mostrar a sua
coragem, voluntariedade, resistência física e anímica. Só um FORCADO com garra
excecional e aficion desmedida á pega, aguentava as provações porque foi
passando, devido a colhidas sofridas. Uma vez, na praça do Campo Pequeno, após
ter tentado quatro vezes inutilmente, a pega de cernelha, cansado e magoado,
receando que o Diretor de Corrida
mandasse recolher o toiro, por brio pessoal e para defender o prestigio
do GFAL, após descansar um pouco sentado no estribo da trincheira, teve
ânimo para executar excelente pega de caras. Seguiu o lema do verdadeiro
FORCADO: “ O TOIRO NÃO PODE RECOLHER VIVO AO CURRAL” ( Ou não fosse
ele alcochetano...)
Nuno Salvação Barreto tinha-me
confidenciado que dadas as suas qualidades seria ele o seu
sucessor. Porém, devido a sub-reptícias manobras, viu-se preterido nessa
nomeação. Injustiça que nunca perdoou e saiu.
Convidado para cabo do Grupo do Aposento Verde de Alcochete,
o seu feitio frontal, direto, e conceções diferentes do que deve ser um
Forcado, não foram bem aceites. Sentia-se desconfortável.
Sabedores disso e devido ao conhecimento que
tinham do seu valor, elementos do Grupo do Ribatejo, desafiaram-no para tomar o
comando deste grupo na altura, a passar dificuldades. Aceite o honroso convite,
sob a sua orientação o GFAR voltou á ribalta, ao lugar que, por tradição
merece.
Todavia, inimizades pessoais, compadrios e falta de isenção
incompreensíveis, inviabilizavam a inscrição do Grupo na Associação Nacional
dos Grupos de Forcados. Então Joaquim José Penetra, Quim Zé, para
quem o interesse do Grupo do Ribatejo está em primeiro lugar, tomou uma
decisão, certamente custosa para quem gosta de pegar toiros como ele. Vendo que
era a sua chefia a impedir a inscrição do Grupo do
Ribatejo na ANGF, desistiu do seu
comando.
No entanto, sempre preocupado com o prestígio do G. do
Ribatejo, não saiu sem arranjar substituto á altura. Encontrou-o em João Machacaz, que
se mostrou ter sido boa
escolha.
Decisão tomada com sacrifício, mostra a
personalidade e pragmatismo de Quim Zé. Qualidades, infelizmente, raras hoje em dia. O oportunismo, o
“chico-espertismo” é o que mais se
encontra.
Quim Zé cedeu a sua posição de cabo e, para não
arranjar problemas ao Grupo, nem sequer se farda. Mas um Forcado como ele
qualquer grupo deseja ter. Foi desafiado várias vezes. Mas não. Embora não se
fardasse nunca deixou o grupo a quem tanto se afeiçoou. Acompanha-o para todo o
lado. Muitas vezes pedidos, os seus experientes conselhos são ouvidos com
atenção e respeito.
Vai agora ter a
homenagem que ainda não teve se bem que a merecesse. Mas, como digo, MAIS VALE
TARDE QUE NUNCA. Não faltarei á homenagem e espero que muitos outros
façam o mesmo. Como Homem e como Forcado, Quim Zé
merece-a.
Carlos Patrício Álvares (Chaubet)
Foto:D.R.