Foto:D.R.
Do estimado amigo e colega de lides da escrita, João Cortesão, recebi dois artigos que invocam a Lei de Imprensa, no que toca ao direito de resposta.
Ambos os artigos servem de resposta a dois outros artigos de opinião publicados no site www.tauromania.pt, da autoria do Sr. Francisco Freire Gameiro e do Sr. Diogo Palha.
Com a devida vénia aos autores e ao site em questão, publicamos também os seus respectivos artigos, não só para dar espaço e visibilidade a todas as vozes, bem como para que os leitores do Diário Taurino percebam o que está em causa nesta troca de opiniões.
O Diário Taurino não tem o dever de o fazer, mas vai em frente com esta situação, em nome de uma imprensa livre e democrática.
Em primeiro publicaremos os textos do Sr. Francisco Freire Gameiro e do Sr Diogo Palha, seguindo-se as reacções do Sr. João Cortesão.
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Felizmente o descanso
Felizmente o merecido descanso para os Grupos de Forcados Amadores. Digo e escrevo isto á revelia de mim mesmo, depois de ignorar durante anos e anos quem merece o silêncio e o desprezo como resposta ás mais ignóbeis formas de atacar o Forcado Amador, elo mais forte da tauromaquia Nacional. Intocável pelas suas mais nobres convicções.
Bem muito bem, dignamente e com unidade, têm os Grupos de Forcados conseguido elevar e dignificar a sua tradição, traçando a passo e passo e com uma firmeza de louvar uma luta contra contra piratas e aves de agoiro, habituadas a dividir para reinar (no seu pobre reino onde existe um reizinho cabeçudo, como nas histórias dos pequeninos, seguido por um diminuto e vingativo séquito).
Já lá vai o tempo em que os Amadores, Os Forcados se deixavam embalar por "estórias inventadas" só para Inglês Ler.
Comecei por dizer e escrever, FELIZMENTE O DESCANSO. É verdade, pois a partir de agora, as pseudo-CÓMICAS das Corridas de Toiros, desculpem crónicas, deixarão de terminar com o seguinte relato, "Os toiros foram pegados por Fulano, Beltrano e Cicrano", economizando-se papel, tinta e outras coisas.
Deixarão os Forcados através das suas intervenções, dos seus nomes e dos seus actos de promover os Anti-tudo, que se equiparam sem vergonha a Grandes Nomes do Jornalismo Português, que mesmo no tempo da outra Senhora nunca passaram fins-de-semana á conta do Povo Português. Se os passaram, foi em defesa de valores e nunca por crimes cometidos.
Forcados Amadores deste Cantinho á beira-mar plantado, continuai unidos, continuai devagar mas com firmeza a dar os passos que estão a dar resultado, pois se não estivessem as aves de agoiro não piavam.
Bem Hajam
Francisco Freire Gameiro
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Em resposta ao quiebro de João Cortesão
Caro João Cortesão,
Como sabe não leio o jornal onde escreve mas como teve a amabilidade de me enviar o texto que me dirigiu e já me disseram que o mesmo foi publicado, não queria deixá-lo sem resposta embora lhe confesse que não tenho grande prazer em fazê-lo porque gostava mais de não colocar em público algumas das coisas que sinto. Desde já acrescento que não alimentarei nenhuma telenovela de resposta e contra-resposta. Apenas escreverei esta única vez sobre o texto que me dirigiu.
Começo por lhe dizer que agradeço e aceito o pedido de desculpas que me faz por ter escrito um texto no qual, fazendo comentário a um texto meu, afirma que eu sou membro da ANGF. Penso que deveria alargar esse pedido de desculpa aos seus leitores que foram induzidos em grave erro pois uma coisa é a opinião da ANGF ou de um dos actuais membros dos seus corpos sociais e outra coisa é a opinião de um simples aficionado como eu sou hoje em dia.
Aceito o pedido de desculpas, agradeço a correcção, mas não posso deixar de lamentar que o João Cortesão se mostre ignorante acerca de um assunto sobre o qual parece que gosta de escrever com alguma regularidade. É bom que quando escrevemos saibamos do que escrevemos, por isso permito-me aconselhá-lo a uma visita ao site da ANGF, www.angfportugal.org onde poderá ficar a saber mais sobre esta Associação e seus propósitos, coisas que parece desconhecer.
Como o João Cortesão saberá eu fui um dos impulsionadores e fundadores da Associação Nacional de Grupos de Forcados, e por conhecer profundamente a forma como esta Associação foi concebida e quais os propósitos que defende não posso aceitar a sua “lição” sobre o papel das Associações de Classe e sobre a defesa dos mais fracos e desprotegidos.
Ao contrário do que o João Cortesão e mais uns quantos afirmam, com igual ou superior nível de ignorância sobre o tema, a ANGF constituí-se e funciona com um nível de igualdade entre-Grupos, respeito e sentido democrático que dificilmente se poderia esperar não fosse a grandeza e humildade demonstrada pelos Grupos de maior história e prestígio que se predispuseram e predispõem a sentar-se à mesma mesa com todos os outros Grupos, discutindo todos os temas cara a cara, e tendo apenas direito a 1 voto como todos os Grupos. Os Grupos de Santarém, Montemor, Lisboa, Vila Franca, Évora, Alcochete ou Aposento da Moita não precisam da ANGF para nada e não tinham necessidade nenhuma de se sentar à mesa com o Aposento do Montijo ou o Grupo de Aveiras, para discutir ao mesmo nível e aceitar ter o mesmo voto, de igual para igual.
No seu texto pergunta-me várias vezes se concordo com algumas questões relacionadas com a actividade da ANGF. A minha resposta é simples: eu penso pela minha cabeça e naturalmente nem sempre concordo com todas as decisões da ANGF. Mas o que não tenho a pretensão é de achar que sei o que é melhor para os Grupos de Forcados mais do que os seus próprios Cabos. Acho extraordinário que haja uns quantos iluminados, nenhum deles Cabo no activo, que achem que eles é que sabem como é que a ANGF devia ser…
Mas caro João Cortesão eu percebo que não compreenda e não concorde com a ANGF porque esta Associação nasceu para defender o VERDADEIRO FORCADO AMADOR e infelizmente parece-me que o João Cortesão não partilha do mesmo conceito de FORCADO AMADOR que levou ao nascimento da ANGF e do qual eu partilho.
É que sabe João Cortesão um verdadeiro Forcado Amador tem como importante característica ser humilde e não se auto-intitula nem se deixa anunciar como “velha glória da arte de pegar toiros”, sobretudo quando não o foi. Que haja uns quantos que não tenham capacidade para discernir sobre o que foram enquanto forcados, eu compreendo, mas de si esperava outra coisa.
Por outro lado João Cortesão, um verdadeiro Forcado Amador tem um respeito religioso pela jaqueta. Pela jaqueta do seu Grupo e pela jaqueta dos demais Grupos. E por isso a um verdadeiro Forcado Amador nunca lhe passaria pela cabeça vestir a sua jaqueta numa “selecção” sem pedir autorização ao seu Cabo e muito menos lhe passaria pela cabeça fardar-se com uma jaqueta de um Grupo onde nunca tivesse pegado. Ao fazê-lo o João Cortesão não só faltou ao respeito aos Grupos onde pegou como sobretudo faltou ao respeito a todos os que vestiram a jaqueta do outro Grupo onde o João nunca pegou mas que se sentiu na liberdade de vestir.
Por último meu caro João Cortesão, um verdadeiro Forcado Amador tem também um respeito religioso pelo Público e pelo Toiro e por isso quando não está em condições de se por diante de um Toiro as vezes necessárias para o pegar, o que faz é ir para a bancada.
No conceito do verdadeiro Forcado Amador deixar um toiro ir vivo para dentro pode não ser vergonha nenhuma. Se um toiro for vivo para dentro e ao olhar para o Grupo que o tentou pegar não se vir nenhum forcado de pé porque todos eles, repito a palavra todos, foram vencidos e já não se conseguem levantar da maca ou do chão, então não é vergonha nenhuma que o toiro ganhe a luta e recolha vivo aos currais.
Mas se o que acontece é o que aconteceu na Figueira da Foz à selecção das velhas glórias então a palavra certa para denominar o sucedido é mesmo “vergonha”.
Não sou historiador para saber quais os Grupos que já deixaram ir toiros vivos para dentro ou não deixaram. Sempre ouvi dizer que o Grupo de Santarém nunca deixou… mas o que posso fazer é falar por mim e dizer que enquanto forcado tive a felicidade de nunca os Grupos onde peguei terem deixado ir um toiro vivo para dentro. Eu próprio e muitos dos meus companheiros conhecemos alguns Hospitais para que isto fosse verdade.
Caro João Cortesão hoje em dia com o Youtube já toda a gente vê o que se passa e não chega bradar aos 7 ventos que um toiro era impegável. Se em vez de ser “velha glória” o Peitaça estivesse no Grupo de Coruche, onde pegou, teria pegado o toiro em todas as 5 tentativas que fez. E qualquer cernelheiro com idade para o ser, chamaria um figo a um toiro que só quis encabrestar como hoje em dia raramente se vê.
Ao contrário do que dizia a “voz-off” na Praça da Figueira, que “pegar 5 toiros em 6 é muito bom”, eu acho que pegar 5 toiros em 6 é uma desgraça.
Mas creio que os aficionados não ficam surpreendidos pois toda a gente sabe que a Corrida do Farpas tem primado por várias palhaçadas. Num ano foi a palhaçada da pseudo-alternativa de Bernard Gillibert, noutro ano foi a pseudo-palhaçada do “centenário” do Grupo do Ribatejo e nos últimos dois anos tem sido a palhaçada da selecção das “velhas glorias da arte de pegar toiros”. Ainda bem que a Corrida se realiza na Figueira pois se porventura se realizasse numa terra com mais aficionados conhecedores a organização ainda era processada por publicidade enganosa…
Meu caro João Cortesão, “os passáros da mesma pena voam juntos” e por isso quando escolhemos com quem voamos dizemos parte do que somos.
Eu pela minha parte continuarei a “voar” com quem quero, certamente no apoio à ANGF, estimando as pessoas que dela fazem parte e que muito têm feito pelos Forcados e pela Festa.
Um abraço,
Diogo Palha
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Resposta a “Felizmente o descanso”
Abri o Site “tauromania” como faço todos os dias, tal como acontece com todos os outros sites e li de fio a pavio como é habitual.
Gostei dos dois artigos de opinião que titulam esta minha modesta opinião.
Em relação á declaração do Sr. Francisco Freire Gameiro, não posso deixar de a admirar pela coerência e porque é sustentada por uma história invulgar como forcado (provada ainda recentemente em Santarém), mas não estou parcial ou totalmente de acordo com várias das opiniões expostas.
A saber:
1 – Nunca no jornal onde escrevo se atacou, e ainda para mais de forma ignóbil o “Forcado amador”, porque concordamos, tal como diz, que ele “é o elo mais forte da corrida á portuguesa. Intocável pelas suas mais nobres convicções”.
Será que proibir grupos de exercer livremente a sua arte ou atentar contra a liberdade de imprensa é uma nobre convicção?
2 – Li que “bem, muito bem, e com unidade, os forcados portugueses…”
Se tem escrito”bem, muito bem, e com a unidade de alguns” concordava, assim não. Cadê os outros?
3 – A referência ao cabeçudo gostaria de lhe recordar que no seu tempo e no seu grupo também havia tipos com cabeça grande que por isso não deixaram de ser grandes forcados e gente de bem.
4 – Quanto ao descanso por não haver referencias aos forcados de grupos associados, no jornal, fico contente por não correr o risco de fazer pagar os justos pelos pecadores, já que fui eu a lançar a ideia.
5 – Julgo que me inclui no “diminuto e vingativo séquito”, se é verdade gostaria de lhe lembrar que fiz ao longo dos anos, panegíricos de grandes forcados, alguns do seu grupo.
6 – Quanto ao paragrafo em que se refere aos fins de semana á conta do povo étc., dispenso-me de fazer considerações…
7 – Estou totalmente de acordo no apelo que faz á união dos forcados, mas de todos os forcados.
8 – A sua opinião a propósito do jornal deixa-me descansado, porque o pior seria que todos gostassem. Reacções de discordância com a linha editorial, são sinais de vitalidade.
Plagiando as suas palavras, termino: “Finalmente estou descansado”.
João Cortesão
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Ao ler uma resposta á minha carta escrita ao senhor Diogo Palha, respondi de imediato e enviei para o site “tauromania” invocando um possível direito á resposta, ou á falta deste apelei para a ética jornalística.
Porque o site “tauromania” não satisfez o meu pedido, aqui está a minha contaresposta á resposta do sr. Diogo Palha.
Meu caro Diogo:
Se pensares um pouco, perceberás facilmente que não tenho nada que ver com o titulo “Velhas glórias da arte de pegar toiros”, pois a responsabilidade deste, cabe na totalidade á direcção do jornal e aos promotores da corrida.
Quem me lê, sabe que sempre assumi a minha passagem menor e sem brilho pelo mundo da forcadagem, tendo inclusivamente na época passada manifestado a minha alegria por me fardar com os eleitos, figuras dum mundo, ao qual não pertenço - com muita pena minha – por manifesta falta de valor.
Quanto á alternativa do Gilibert, penso que foi em tudo semelhante á do respeitável senhor Agostinho da Silva, em que pegaram dois dos grupos de mais prestigio, um deles do qual foste cabo.
Quanto ao centenário do grupo do Ribatejo, saberás com certeza que alguns dos fundadores do grupo de Santarém começaram por pegar nesse grupo, que depois teve várias épocas parado ou utilizando outro nome.
Tens a certeza de que não há outras contagens de tempo feitas com base em premissas semelhantes ás que deram os 100 anos? Parece-me que por aí estamos conversados.
Quanto á história do toiro ir vivo para dentro, merece-me estas considerações:
1 – Sempre que vejo um forcado retirado voltar a pegar, emociono-me, mesmo quando atrás deles há gente no activo e capaz. Se acaso as coisas correm mal lamento profundamente e procuro sempre desculpas para o sucedido.
Neste caso da corrida “FARPAS” sabes a idade de todos que se fardaram que foram velhas glórias mas que têm hoje mais de 50 anos e alguns mais de 60 como o Machinó , o Silvino, o Fazé, o Penetra, o Xico Costa o Zé L. Figueiredo e outros que foram também forcados de época, daqueles que nunca rejeitaram curros por peso, idade ou características das ganadarias?
Foi pena, não se ter pegado o toiro, ninguém lamenta mais que nós, mas noutras fases da vida deste nosso país, estes de que te falei mostraram a sua valentia, quando muitos se ausentaram ou pura e simplesmente se esconderam, enquanto a guerra fervia e não havia forma de pegar de recurso o curso da história, ou de disfarçar maus desempenhos nessas épocas, como se disfarçam pegas não consumadas.
2 - Infelizmente quem é o grupo que não conhece Hospitais? Será que gostavas de ter visto um massacre maior, de forcados de 50 e 60 anos, só por vingança em relação a uma ou mais pessoas?
A direcção da Angf não sei se pensa assim, mas como citas um aforismo popular aqui o repito, para que conste: “Aves da mesma pena voam juntas”.
Ao comparares um grupo no activo com uma selecção de gente com a nossa idade, além de falta de respeito para com a figura do forcado, parece-me doentio na forma.
3- Naquele dia fardei-me com a jaqueta do grupo de Azambuja grupo onde me fardei no último ano em que estive no activo, junto com o ex cabo do grupo nessa época.
Convém recordar que me fardei no grupo de Tomar 1 ano, depois no grupo Académicos de V. Franca, depois da guerra nos Amadores do Ribatejo e por fim no grp de Azambuja, e mudei sempre e só, ou por falta de valor assumida, ou por questões de amizade ou porque me apeteceu. Por razão nenhuma fui empurrado… nem puxado.
3 – A propósito da “VERGONHA” de que falas, lembro-te um pensamento de Malcolm que reza assim: “um dos grandes objectivos da Humanidade devia ser transformar em mentes abertas aquelas que o tempo recalcou” .
Vergonha é uma palavra muito forte, tanto que o povo na sua imensa sabedoria limita o seu sentido com este adágio: “ vergonha é roubar e ser agarrado”.
Tu voarás com quem entenderes e eu caminharei com os pés bem assentes na terra, em minoria ou mesmo sozinho, porque já demonstrei ao longo da vida que não vou para onde me empurram, mas sim para o lado donde julgo estar a razão. Se voares meu caro Diogo, com as aves da mesma pena, recorda-te que a época da caça está começar, e toma atenção, que alguém escreveu assim: “as aves têm como característica fisica uma pequena cabeça, a denunciar inusitado pequeno conteúdo no que respeita ao descernimento”.
Por pensar que antes poucos e bons, e antes só que mal acompanhado, já votei só com outro amigo num momento difícil, contra centenas, e seguindo o meu caminho, pouco tempo depois encontrei-me com a razão do meu lado .
Não desisto daquilo em que acredito. Sempre fui um homem de ideais.
Sempre a considerar-te
João Cortesâo