A FAZER DE ZARATRUSTA
Conhecendo a suscetibilidade dos Forcados, para que não
hajam más interpretações e me atribuam intenções que não tenho nem nunca tive,
faço sempre uma pequena introdução.
1º- Para se ser Forcado, no passado, no presente e, estou
convencido no futuro, é preciso uma qualidade que não é monopólio de nenhuma
geração – a valentia. 2º - A pega de toiros teve, tem e terá sempre perigo.
3º - Por isso, todos os Forcados têm, à partida, a minha
simpatia. Assim, antes de reagirem negativamente a qualquer comentário que eu
possa fazer e considerem menos agradável, lembrem-se do que acima escrevi.
Posto isto
vamos ao cerne da questão. À corrida do dia 19 de agosto no Montijo.
Os toiros espanhóis que apareceram nesse espectáculo,
fizeram-me recordar os de há setenta, sessenta anos atrás. Embora os desse
tempo, (felizmente), não fossem tão arrobados.
No entanto, tal como os saídos no Montijo, careciam de
qualidade.
Isso fazia com que houvesse a “pega à meia volta”, “pega à
quebra da mão”, “pega ao sopé”. Modalidades a que se recorria para obstar à
falta de combatividade, de bravura desses toiros.
Atualmente, de uma forma geral, o pegador chama o toiro de
meia praça, ou pouco menos, o toiro investe e a pega acaba junto à trincheira.
No tempo a que me refiro, era ainda mais raro o toiro arrancar-se de largo, do
que agora não o fazer. A pega acabava antes de se chegar à trincheira porque o
toiro parava a “bater”, a derrotar.
Ora para os toiros que surgiram no Montijo, nomeadamente
para um, cuja falta de combatividade foi chocante, é que uma das modalidades a
que me refiro, seria indicada.
Para pegar um toiro nestas condições tinha que se arriscar.
Era preciso “ir busca-lo” , como se dizia na gíria dos forcados. Entrar no seu
terreno. OBRIGÁ-LO a marrar. O espectáculo vinha depois.
O toiro marrava contrafeito. Não corria. A sua falta de
combatividade levava-o a parar derrotando, procurando desfazer-se
do pegador. A movimentação dos ajudas igualmente era diferente.
Hoje o toiro, no seu galope, vai ao seu encontro.
Naquele tempo, quase se pode dizer que eram os
ajudas que tinham que correr para o toiro.
Enfim, lembrei-me disto porque, quanto a mim, era assim que
se devia tentar pegar aquele toiro. Foi um teste positivo à valentia do Forcado
que foi à cara.
Mas
desnecessariamente desgastante. O número de vezes, a convicção e determinação
com que desafiou o toiro, merecia um prémio maior.
Carlos Patrício Álvares (Chaubet)
Foto:D.R.