Duarte Palha (Texto)
Desenho: Joaquim Pedro Quintella
Por época do defeso, “hibernando” a “festa” mas nunca hibernando o nosso bicho da afición, damos por nós à procura de algo que nos entretenha. E qualquer coisa nos serve. À falta de cigarros, qualquer beata mata o vício. A mim, as beatas que mais me entretêm, são as mexidas de quadrilhas, apoderados e empresários.
Os empresários "saltam", as quadrilhas
"bailam”, os apoderados "dançam" e o mundo dos toiros não passa
de um gigante “baile das velhas" por estes dias. Cada um faz por arranjar
par e cada um faz por não dançar com a mais feia.
Há feias que já nem voltam à pista. Arranjaram par no ano
passado, mas houve desavenças no casamento e este ano não saem da cadeira onde
estão, sentadas, sisudas, de refresco de laranja na mão.
Muitas vezes há velhas solteiras que se juntam aos pares e
prometem arrasar a pista, que agora vai ser tudo diferente e a dança nunca mais
vai ser a mesma. São danças tão grandiosas que até lhes chamam
"projectos". Projectam-se as velhas para a pista, pára a sala para as
ver, mas geralmente a artrite ataca e ao fim de três danças acaba-se a
revolução da dança. Sentam-se as velhas cansadas e o baile segue, igual a
sempre.
As solteironas mais atrevidas ainda se lançam à aventura em
danças sem par, à espera que alguém lhes pegue. E os comentadores de serviço,
ao verem um olhar mais guloso, por parte de algum outro solteirão ou casado
adúltero, logo se apressam a contar à sala de baile: “olhem que aquilo vai dar
arranjinho”.
Surgem os desmentidos.
- Que não, que "nunca disse que ia bailar com
ela". Que “são só boatos”. E que não, que "estou muito contente com o
meu par e bailamos bem os dois, Obrigado."
E às vezes até bailam. E o casamento é duradouro e forte
Outras vezes não. Acabam mesmo por dançar com a feia atrevida e desmente-se o
desmentido.
Os divórcios nestes casamentos são sempre amigáveis. Nunca
há zangas e todos acabam amigos, "que somos todos crescidinhos”. Apenas
tinham caído na rotina e ambos viram que o melhor era cada um seguir o seu
caminho. Mas desta é que é. Desta vez, bailando com a feia atrevida, é que o
amor da vida está encontrado. Que foram falando e viram que faziam sentido
juntos. E tudo se faz sem papéis. Em união de facto. E em comunhão de bens, que
se não vierem bens "à baila” não há amor que resista…
Por alturas de Abril, acaba-se o baile, acabam-se os
"arranjinhos" e já todos temos com que nos entreter. Os toiros que
interessam mesmo. E os bailadores já têm cada um o seu par, o seu amor eterno.
E todos vivem felizes para sempre. Até ao seguinte baie das velhas…